2.10.17

No bolso junto às coronárias do casaco, ela guardava o cartão postal que alguém tinha recebido em 1918. Achava que isso era uma forma de sentir as palavras bonitas de caligrafia enlaçada, que mesmo não sendo remetidas a ela, por herança lhe pertenciam. O postal, de amarelo-torrado-crónico, pontas ligeiramente espigadas, ainda mantinha o som de batimento cardíaco quando se flectia o cartão. E era exactamente por isso que fazia parte das horas que confeccionavam o dia dela. Ele era ilustrado. Ela era assistólica. Ele era colocado todos os dias no bolso. Ela era colocada todos os dias no limbo.


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