Ilustração: Juba Faria
Sempre sentimos os doces dela nas canções e contos inventados junto ao anfíbio metálico que aquece o ar antes de sufocar. A casa tem o calor típico das de bonecas e o lar tem o sofá forrado a bombazina bege. A marca do teu espaço no lugar em frente à televisão apenas diz que preenchemos os espaços vazios com claves de sol e dó maior de músicasorriso. Eu compreendo que a lágrima cega não será a última.
Amo-te com a camisola grossa castanha, mesmo quando a usas dentro de casa.
Na verdade, existem formas sentidas de conseguir um abraço teu, não tivesse eu com a camisola castanha no dia em que o teu vestido de alças fez as honras debaixo dos flocos de neve e o tom roxo do teu sorriso misturou-se com o meu em banho-maria pequenina. Mas agora, lá fora, o jardim escorrega em folhas secas e sei que basta cruzar o meu olhar contigo para que o nosso mundo se assuma em pensamento estaladiços.
Tal como naquela manhã, em que desci as escadas de pés juntos (como as bonecas) e o fogão refogava pão afogado em ovo, mais leite queimado em pele aflita. Em música de fundo tinha beijos soprados em mãos cheias de açucanela e dentro de uma gargalhada assumida a dois, as fatias ficaram com a cor das folhas secas. Disseste-me entre pestanas "não sinto a lágrima".
Tal como na noite escurazul em que mergulhei os punhos em água fria porque marcavam batimentos rápidos. Disseste-me que a calma habita as sombras do quarto. Partilhamos o travesseiro e beijaste-me entre o abrir e fechar dos olhos (do sol aos pés da cama), para que depois, ao primeiro toque pincelado da luz, a ponta dos teus dedos posicionassem o espelho redondo de forma a este se reflectir na parede. Disseste que tínhamos o sol a nascer também à cabeceira da cama.
Talvez seja um sol que absorva todos os sonhos maus… Mas se estiveres perto de mim, nem de sol, nem de anfíbios metálicos e nem dos santinhos todos da avó vou precisar para me sentir bem.
Maldito CO que chegou depois do cabelo químicocaduco (com posição periódica), das veias quebradas e das flechas radiológicas na espinha do espinhado solitário.
Hoje, finalmente, senti o gelo soprado dentro da casa de bonecas porque agora tem todas as portas e janelas abertas por insónias desabitadas.
V.B.Mefistófeles & TiiL